Vamos falar sobre o Lúpus?

por Dr Sergio Luiz Oliveira Nunes, quarta-feira, 10 de novembro de 2021 09:00


Afinal, o que é o lúpus?

O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença reumatológica inflamatória, de origem autoimune, com geração de auto anticorpos, no qual o sistema imunológico inicia um ataque às células e proteínas do próprio organismo, causando disfunção da região acometida. A doença pode gerar inflamação em quase todos os órgãos e sistemas do corpo humano, nas mais variadas combinações, por isso a dificuldade em diagnosticar a doença.


Ela pode ser classificada como leve, moderada ou grave, dependendo do órgão acometido. Um paciente com lúpus leve pode vir à apresentar um quadro grave futuramente. Em geral a patologia evolui em períodos de surtos inflamatórios intercalados com melhora parcial ou completa da doença, sendo a duração dessa inflamação variável, podendo em alguns casos haver uma inflamação persistente.


Quem pode desenvolver o lúpus?

Qualquer pessoa pode desenvolver a doença, porém ela é muito mais prevalente em mulheres em idade fértil, geralmente iniciando entre os 20 aos 30 anos de idade. A doença parece ter maior prevalência nos afrodescendentes, porém pode acometer qualquer grupo étnico, qualquer idade (desde crianças até idosos) e qualquer sexo.


Qual é a causa da doença?

Não se sabe exatamente qual é a causa, porém parece haver influência de  fatores genéticos, com maior prevalência em parentes de primeiro grau (17 vezes mais chance);  fatores hormonais, como os níveis de estrogênios que estimulam as células imunes;  fatores ambientais como exposição solar o qual possui raios ultravioleta (UV), tabagismo, infecções virais, uso de próteses de silicone e uso de certos medicamentos. 


 A doença não é transmissível e não há uma única causa, sendo em geral a combinação de fatores genéticos, hormonais, ambientais e imunológicos que acabam desencadeando o início do lúpus.

 

Quais exames meu médico deve solicitar?

Os exames laboratoriais são importantes para o diagnóstico da doença, visto que os sintomas são diversos e muitas vezes pouco específicos para a doença. 

A positividade para testes que identificam auto anticorpos, que são aqueles anticorpos responsáveis pela auto imunidade, são especialmente úteis.

FAN (Fator antinuclear):  É o exame de triagem, no qual a negatividade afasta muito a possibilidade da doença visto que 98 a 99% dos pacientes com lúpus apresentam o teste positivo.  Outras doenças auto imunes também positivam o FAN, são elas a síndrome de Sjogren, esclerose sistêmica, dermatomiosite, etc. Além disso, de 10-15% da população sem a doença possui o teste positivo, sendo então um teste que quando positivo não diagnostica a doença.

Auto-anticorpos: Anti-Sm, Anti-DNA, Anti-Ro, Anti-La, Anti-RNP, anti-nucleossomo, anticoagulante lúpico, anti-cardiolipina dentre outros podem estar positivos, sendo o anti-Sm e o Anti-DNA mais específicos para o diagnóstivo de lúpus.

Complemento: C3, C4 e CH50 são exames que quando baixos sugerem atividade inflamatória do lúpus.

Exames gerais: Hemograma, exame de urina, enzimas hepáticas, enzimas musculares, testes de função renal podem auxiliar.

Biópsia renal (na presença de alterações renais) podem auxiliar no diagnóstico

Exames inflamatórios inespecíficos como VHS e PCR não auxiliam muito no diagnóstico, sendo que o VHS pode estar elevado quando há inflamação, porém o PCR não costuma se elevar na atividade de doença.

 

Mas afinal, como se faz o diagnóstico da doença?

O diagnóstico é clínico-laboratorial, devendo o médico juntar os sintomas e as alterações de exames para chegar ao diagnóstico final da doença, como se juntasse as peças de um quebra-cabeça. Por isso o diagnóstico pode ser muito desafiador, sendo o reumatologista o médico mais apto para esta avaliação.


Feito o diagnóstico, iniciamos o tratamento:

O tratamento do lúpus envolve uma ampla variedade de medicamentos imunossupressores (que diminuem a imunidade) e imunomoduladores (que modulam o sistema imunológico), e a terapia varia de acordo com as manifestações apresentadas junto com a escolha conjunta do paciente, visto que existem medicamentos que podem ser administrados via oral ou via endovenosa, alguns medicamentos alteram a fertilidade, outro causam mal formação fetal não devendo ser utilizados na gestação. Portanto a terapia deve ser discutida e opinião do paciente levada em consideração na escolha do melhor remédio para aquela pessoa.